Sítio Roberto Burle Marx recebe título de Patrimônio Mundial da Unesco.

Sítio é laboratório de experimentações botânicas e paisagísticas que sintetiza a obra de Burle Marx. A Presidente da Fundação Municipal do Patrimônio, Kátia Bogéa, ex-Presidente do IPHAN, registrou a conquista em suas redes sociais.

O Brasil acaba de receber mais um título de Patrimônio Mundial. Legado do paisagista brasileiro que criou o conceito de jardim tropical moderno, o Sítio Roberto Burle Marx (SRBM) foi reconhecido na última segunda-feira, 26, durante a 44ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Com a nova chancela, o Brasil passa a ter 23 bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco. Localizado na Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), o Sítio tem 405 mil metros quadrados de área e abriga uma coleção botânica com mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais, cultivada em viveiros e jardins. O sítio é uma unidade especial do Instituto do Iphan, autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo.

“O Sítio Roberto Burle Marx é certamente uma obra de arte, onde as paisagens são o elemento de maior destaque, ligando todo o conjunto com poderosa personalidade. Os espaços ajardinados do Sítio materializam tanto os princípios paisagísticos da obra de Burle Marx quanto os processos de análise, cultivo e experimentação que impulsionaram a criação do paisagismo tropical moderno. A vegetação organizada em diálogos de forma, cor e volume que permeiam todos os ambientes, mas também se articulam e interagem com a mata nativa, com a topografia e os acidentes naturais do terreno e com elementos artísticos e arquitetônicos de diferentes épocas e culturas, resultando numa paisagem notável e singular”, ressalta a diretora do SRBM, Claudia Storino.

Para a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, este título é motivo de orgulho para o Brasil, o Iphan e toda a população brasileira. “A chancela estabelece um compromisso para manter os valores excepcionais que tornam esse lugar de importância para toda a humanidade. Temos a missão de preservar para as futuras gerações este espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento sobre natureza, paisagismo, arte e botânica”, destaca.

Jardins, viveiros de plantas, sete edificações e seis lagos integram este espaço singular. A propriedade também guarda um acervo museológico de mais de três mil itens, que inclui um grande repertório da produção artística de Burle Marx, suas coleções de arte moderna, cuzquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira, de cristais e de conchas, além do mobiliário e dos objetos de uso cotidiano da casa.

Maior e mais importante registro da obra de Burle Marx, o SRBM recebe cerca de 30 mil visitantes por ano. Conhecido internacionalmente como um dos mais relevantes paisagistas do século XX, Roberto adquiriu o Sítio em 1949 e ali viveu entre 1973 e 1994. Ao longo de 45 anos, reuniu na propriedade plantas de diversas partes do mundo e dos diversos biomas brasileiros, algumas atualmente em risco de extinção.

Todo esse conjunto acaba de passar por uma vasta requalificação, que fortaleceu e subsidiou o processo da candidatura ao título de Patrimônio Mundial. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu aproximadamente R$ 5,4 milhões em projetos e intervenções para valorizar espaços de visitação, implementar medidas de acessibilidade, ampliar o acesso público e potencializar ações de pesquisa. Fruto de parceria firmada entre o Iphan e a Associação Intermuseus, associação civil sem fins lucrativos (Oscip), a requalificação iniciou em outubro de 2018 e foi concluída em fevereiro de 2021.

Na articulação entre espaços ajardinados, arquitetura e acervo botânico, o SRBM testemunha de forma única o pensamento de Roberto Burle Marx e sua contribuição para um importante momento da história da humanidade – o período moderno do século XX -, que se materializou na arquitetura, nas artes, no planejamento urbano e, mais especificamente, na criação de paisagens.

Burle Marx foi pioneiro na luta pela conservação da natureza e ferrenho defensor do ambiente. Compreendendo desde cedo o potencial estético e a importância científica da flora tropical, introduziu o uso de espécies nativas em seus projetos paisagísticos, criando o conceito de jardim tropical moderno, alinhado ao movimento moderno na arquitetura e nas artes, que produziu grande impacto no campo mundial do paisagismo.

Claudia Storino explica que há camadas de conhecimento científico que precedem e permeiam os jardins. “Evidenciando essa dimensão conceitual, Burle Marx referia-se ao Sítio como o seu ‘cadinho’. Essa metáfora não é força de expressão ou referência fortuita. A energia depositada na constituição de sua coleção botânica; sua concentração na construção do conhecimento científico necessário ao cultivo, à reprodução e à utilização das espécies; a dedicação intensa e permanente à realização dos experimentos, juntando os diversos elementos vegetais sob os determinantes naturais de terra, água e luz, em busca dos resultados estéticos que o tempo se encarregaria de amadurecer. Tudo isso traça paralelos com o trabalho dos alquimistas. No caso da produção do jardim tropical moderno, o Sítio foi de fato o cadinho, ou crisol, onde os elementos foram misturados de modo a produzir uma obra nova, com novos princípios e nova expressão plástica”, esclarece a diretora.

Em São Luís (MA), a ex-Presidente do IPHAN, atual Presidente da Fundação Municipal do Patrimônio, Kátia Bogéa, registrou a conquista em suas redes sociais, agradecendo a equipe coordenada pelos arquitetos Andrey Schlee, Claudia Storino e Marcelo Brito, que trabalhou junto a ela na elaboração do dossiê da candidatura que contribuiu fundamentalmente para que o nosso país recebesse este título. E finalizou: “Gratidão Roberto Burle Marx por ter nos deixado esse legado de valor excepcional para toda a humanidade”.

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Vanessa Serra é jornalista. Ludovicense, filha de rosarienses.

Bacharel em Comunicação Social – habilitação Jornalismo, UFMA; com pós-graduação em Jornalismo Cultural, UFMA.

Atua como colunista cultural, assessora de comunicação, produtora e DJ. Participa da cena cultural do Estado desde meados dos anos 90.

Publica o Diário de Bordo, todas as quintas-feiras, na página 03, JP Turismo – Jornal Pequeno.

É criadora do “Vinil & Poesia” que envolve a realização de feira, saraus e produção fonográfica, tendo lançado a coletânea maranhense em LP Vinil e Poesia – Volume 01, disponível nas plataformas digitais. Projeto original e inovador, vencedor do Prêmio Papete 2020.

Durante a pandemia, criou também o “Alvorada – Paisagens e Memórias Sonoras”, inspirado nas tradições dos folguedos populares e lembranças musicais afetivas. O programa em set 100% vinil, apresentado ao ar livre, acontece nas manhãs de domingo, com transmissões ao vivo pelas redes sociais e Rádio Timbira.

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